O Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (PROVE), vinculado a Universidade Federal de São Paulo(UNIFESP), atende pessoas que , em virtude terem passado por situações de violência (assaltos, seqüestros, ou perderam alguém assassinado, ou foram vítimas de abuso nas suas diversas formas), desenvolveram um quadro psiquiátrico. Realiza ainda pesquisas em vários campos (psicologia, neurociências, estudos epidemiológicos) sobre a relação violência e doença mental. O PROVE é um projeto pioneiro no país e referência nacional e internacional neste campo.
O psiquiatra José Paulo Fiks, coordenador do PROVE, aborda o tema e nos conta um pouco de sua experiência.
- Qual é a definição de Transtorno de Estresse Pós-Traumático?
O TEPT foi uma definição criada e incluída em 1980 no DSM-III, sistema diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria. Em seguida, o conceito foi adotado pela Organização Mundial da Saúde e incluído na CID-10. O TEPT é definido por meio de seus sintomas. Inicialmente, o transtorno pertenceu a categoria dos transtornos de ansiedade. Atualmente, é mais abrangente e inclui elementos como depressão e/ou psicose e a dissociação. Basicamente, o quadro é decorrente de uma experiência traumática que envolve risco (pessoal ou de outros) de morte.
- Como identificar os sintomas decorrentes de TEPT?
Os sintomas são necessariamente decorrentes de uma tríade: revivescência (o indivíduo é invadido pela memória da experiência traumática por meio de pensamentos, pesadelos, alucinações), hiperreflexia (são os conhecidos sobressaltos, sustos, irritabilidade, todos involuntários e decorrentes do medo provocado pela lembrança do trauma) e evitamento (assim como um fóbico, o indivíduo com TEPT passa a evitar ambientes que lembrem a experiência traumática. A tendência é o isolamento social e a permanecer em ambiente em que se percebe mais protegido).
- Há populações de maior risco ao TEPT?
Sim. Populações que vivem em regiões de conflito (guerras), residem em grandes metrópoles e, com isso estão sujeitas à violência urbana decorrente de trânsito, assaltos, sequestros e tráfico de drogas. Além disso, é preciso considerar a violência contra as minorias (homossexuais, travestis, transexuais), agressões domésticas e em escolas. Todas essas situações podem provocar um quadro de TEPT em pessoas que passam diretamente pela experiência do trauma ou indiretamente pela perda de entes queridos. Em alguns paises, as catástrofes naturais e atentados terroristas também provocam TEPT.
- Existe tratamento para TEPT? São eficazes?
Não há tratamentos unânimes para o TEPT. Nas décadas de 1980 e 1990 investiu-se nos antidepressivos, especialmente inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS). Atualmente, cada caso é avaliado individualmente.Às vezes são indicados antipsicóticos, mas raramente ansiolíticos, pois a maioria dos trabalhos apontam para a consolidação das memórias traumáticas quando os benzodiazepínicos são utilizados nas fases agudas do TEPT. A psicoterapia é uma grande aliada no tratamento de TEPT, em suas várias modalidades (cognitivo-comportamental, interpessoal e psicodinâmica).
Serviço:
Rua Botucatu,431,Vila Clementino, São Paulo, SP. Tel(11) 5082 2860
http://www.unifesp.br/dpsiq/prove/